Maria Fernanda Seixas
Especial para o Correio
Fotos: Zuleika de Souza/CB |
Carolina costuma conversar e fazer exercícios diários com o filho João Francisco, de apenas dois meses e meio |
Paula incentiva as aptidões naturais da filha Luiza: a garota já demonstra um gosto especial pela música |
“Os primeiros seis anos do ser humano são críticos. É nesse período que se desenvolvem as aptidões e é quando as crianças vivem o ápice de sua capacidade de aprendizado”, explica Fernando Kok, neuropediatra e professor da Universidade de São Paulo (USP). Entre essas capacidades estão, por exemplo, a inteligência emocional, matemática, motora, artística, lingüística e musical. Portanto, desde os primeiros dias de vida os dons podem ser observados e incentivados. É o caso da administradora Paula Almendra, 32 anos, mãe de Luiza, 9 meses. “Luiza demonstra muito gosto por música, então reunimos a família toda com instrumentos e fazemos uma grande e barulhenta brincadeira”, conta Paula.
E não basta só estimular. Segundo Magda Sampaio, pediatra do Instituto da Criança da USP, as primeiras experiências sociais de uma pessoa podem facilitar ou impedir o desenvolvimento intelectual adequado. Logo, os estímulos sociais que os bebês recebem de sua família são fundamentais para a formação emocional, de tal forma que o desempenho de suas aptidões cognitivas e seu desenvolvimento geral podem ser prejudicados se as necessidades emocionais não forem atendidas de maneira satisfatória. “Ao interagir com a criança, o pai transmite mensagens que formarão o universo afetivo, psíquico, cultural e até mesmo intelectual do filho”, completa Kok.
O ESTÍMULO É CONSEQÜÊNCIA Desde os primeiros dias de vida, os pais devem tratar o bebê como um ser dotado de inteligência e personalidade. Não existem regras nem receitas para os momentos de lazer entre pais e filhos. Segundo a terapeuta ocupacional do Instituto da Criança da USP Aide Mitie Kudo, os estímulos sensoriais são ideais para os bebês até um ano. “As brincadeiras devem se adaptar e respeitar as fases do bebê. A simplicidade e a dedicação são as chaves para uma boa estimulação.” Veja as sugestões dadas pela pediatra Magda Sampaio e por Aide Mitie para o fortalecimento do vínculo e estimulação das capacidades: |
SEM FORÇAR A BARRA Embora a capacidade de aprendizado dos bebês seja fenomenal, os pais não devem se precipitar tentando ensinar os filhos a ler, fazer contas matemáticas ou falar antes da hora. “Não adianta trazer a realidade competitiva do adulto para a vida do bebê, afinal, o estresse é o maior inimigo do aprendizado infantil”, alerta Fernando Kok. Também não se trata apenas de adquirir brinquedos pedagógicos ou DVDs educativos. A receita é simples: o mais completo estímulo são as brincadeiras conduzidas pelos pais, que são os primeiros amigos e professores do bebê. De acordo com a psicopedagoga Carla Azevedo, os pais — por mais que tenham rotinas de trabalho extenuantes — têm de reservar pelo menos meia hora diária para brincar com os filhos. O contato lúdico é essencial para o desenvolvimento não apenas da cognição, mas da maturidade emocional, do vínculo familiar e da autoconfiança das crianças. “Os pais têm que reaprender a brincar, a sentar no chão, a falar alto, se soltar.” E não vale terceirizar esse momento. Creches, escolinhas e babás podem até estimular, mas o afeto que a criança tem por seus pais é intransferível. “O contato, quando somado ao amor, é completo”, resume o neuropediatra e professor da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Aucélio. Com dois meses e meio de vida, João Francisco Barretto já se diverte e esboça os primeiros sorrisos em seus exercícios diários com a mãe, a professora Carolina Barretto, 27 anos. Ela se derrete quando o assunto são as aptidões do filho. “João reconhece minha voz e me segue com o olhar. Muitas vezes, tenho também a impressão de que ele interage quando pergunto alguma coisa. As pessoas subestimam a capacidade das crianças. Mas quando convivemos com elas, vemos como são capazes.” Carolina relata tudo o que está acontecendo pela casa e narra suas ações para o filho. Além disso, herdou do pai a mania de conversar cantarolando. “Minha família sempre foi muito musical. E vejo que João Francisco já demonstra gosto pela música. Sempre que cantamos, ou que meu pai toca violão, ele fica super interessado.” João Francisco recebe ainda estímulos motores, com exercícios simples, como os de fortalecimento do pescoço, ideais para a idade dele. |
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